Desde sua criação até décadas mais tarde, a fotografia foi uma atividade para poucas
pessoas. Quem quisesse fotografar, precisava ter conhecimento de química, física, precisaria
adquirir equipamento e despender tempo tanto para o momento do registro, quanto para a
revelação. E o indivíduo que desejasse ser fotografado precisaria abrir mão de uma
quantidade considerável de capital para ter uma imagem sua eternizada, embora essa quantia
fosse menor do que aquela cobrada anteriormente por pintores retratistas (LEITE; SILVA,
2012).
A primeira câmera para as massas foi lançada em 1990. Era a Kodak Brownie, uma
câmera feita de papelão que tirava oito fotografias por filme e podia ser adquirida por um
dólar. Além de pequena e barata, a Brownie era de fácil manuseio, como representa a
propaganda mostrada abaixo, que diz até uma criança poderia fotografar com ela. Alguns
fotógrafos iniciaram a fotografia na infância com uma Brownie, como o renomadofotojornalista francês Henry Cartier-Bresson (SANTANA).

Figura 7: Cartaz de propaganda da câmera brownie
A Brownie foi considerada pela revista Photography Monthly como a mais importante
câmera de todos os tempos, em uma lista que mostrava o que, para eles, seriam as 50
melhores câmeras. Este título veio devido à revolução que causou no mundo da fotografia, aintrodução do conceito de instantâneo e à quantidade de unidades vendidas (127 milhões de
unidades produzidas somente entre 1952 e 1967) (PHOTOGRAPHY MONTHLY).
A partir da Kodak Brownie houve o início da popularização da fotografia. Durante o
século XX, as imagens fotográficas alcançaram um espaço único na sociedade e nas mídias;
fotografias tinham lugar reservado nas mídias impressas, em propagandas e dentro das
residências, de forma que estas imagens passaram a fazer parte do cotidiano. E após quase um
século de hegemonia da fotografia analógica, a fotografia digital surgiu, e começou a se
popularizar nas décadas de 1990 e 2000.
A fotografia é um dos meios de comunicação visual que alcança boa parcela da
sociedade e que possui uma grande credibilidade junto à mesma, devido ao seu
contexto histórico social. Em decorrência do forte desenvolvimento tecnológico
alcançado pelas indústrias, a máquina fotográfica tornou-se um bem de consumo de
relativa acessibilidade à população. Com custos reduzidos e com uma forma cada
vez mais compacta, a câmera fotográfica é um objeto presente no cotidiano da
sociedade, tendo deixado, há tempos, de ser item exclusivo de profissionais da área.

Figura 8: Câmera digital da marca Nikon
Apesar de a fotografia digital não produzir uma imagem em material palpável (salvo
se for impressa), apenas podendo ser vista na tela do computador e de outros equipamentos
digitais, esta tecnologia vem alcançando uma maior parcela da população nos últimos anos.
Parte disto se deve à facilidade de manuseio dos aparelhos, embora estes apresentem mais
funções do que uma câmera analógica. As câmeras digitais modernas, em sua maioria,
funcionam também como filmadoras e webcans, permitem ao usuário dar efeitos às fotos,
como tons envelhecidos e preto-e-branco e algumas câmeras ainda registram imagens em 3D.
O foco, abertura do diafragma e velocidade do obturador ainda são automáticos nas câmerasnão-profissionais, o que proporciona aos amadores fotos com melhores condições de
iluminação, mesmo que estes saibam pouco ou nada sobre estas técnicas.
Outra vantagem que a fotografia digital encontrou em relação à analógica foi a questão
de custos. As câmeras analógicas, mesmo que custem menos, agregam valor na hora de
adquirir e revelar filmes. As câmeras digitais, por descarregarem as imagens direto em um
computador, possuem um custo de produção mais baixo em relação à analógica
(KAWAKAMI, 2012).
Apesar de todas as facilidades oferecidas pela tecnologia digital, muitos fotógrafos
ainda são relutantes em aderir a ela. Um dos motivos seria a manipulação e o uso de recursos
da computação para alterar as imagens, como explica Oliveira:
A “velha guarda” vê problemas éticos na manipulação e tratamento das imagens,
que aumentam as possibilidades de fraudes e de danos aos fotografados, ferindo o
código de ética da categoria e colocando em risco uma credibilidade conquistada,
principalmente, pelo fotojornalismo. (OLIVEIRA, P. 4)
Sontag diz que “algo de que ouvimos falar mas de que duvidamos parece comprovado
quando nos mostram uma foto” (SONTAG, 2004, p. 16). Sabe-se que a manipulação existe
desde os primórdios da fotografia, com retoques, cenas montadas e imagens sobrepostas. Mas
com a fotografia digital e programas para manipulação de imagens fica cada vez mais difícil
uma imagem transmitir confiança ao observador, sobre a veracidade do fato que ela mostra. E
como esta não possui um negativo, um “original” a que recorrer, fica muito difícil,
especialmente ao fotojornalista, comprovar a (não) manipulação de uma imagem (MENDES,
2002).
As câmeras automáticas também não são bem vistas por estes fotógrafos. “Os
fotógrafos da era digital são acusados de falta de domínio dos métodos e técnicas utilizados na
fotografia, como luz, filtros, velocidade do obturador, entre outros” (OLIVEIRA, p. 5). É
como se estas câmeras quisessem avançar tecnologicamente, mas fazer com que o fotógrafo
regrida na técnica, como se estas câmeras tivessem se apropriado da máxima da Kodak do final do século XIX, “você aperta o botão, nós fazemos o resto”.
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